Rita Ribeiro ou a beleza da vulnerabilidade

Há uns 35 anos, mais coisa menos coisa, era eu adolescente, lembro-me de estar de férias com os meus pais em Braga (o meu pai gostava de ir ao norte depois dos dias de praia em Sesimbra), e vi num cartaz da cidade: "Rita RIbeiro em concerto no Bragalândia". Era uma espécie de feira popular. Pedi aos meus pais para irmos naquela noite a esse parque, mais do que brincar nas diversões, a minha ideia era assistir ao concerto da Rita Ribeiro. Até porque assim os meus pais também aproveitavam esse momento.
Não me lembro dos carrosséis, mas tenho uma imagem muito clara do concerto. Lembro-me que a Rita Ribeiro entrou no palco, que era ao ar livre, com um vestido branco de seda, esvoaçante, devido ao vento que se fazia sentir. Lembro-me de que não estava muita gente a ver, mas que a aquela actriz, cantora e Mulher no palco cantou como se estivesse a actuar para uma multidão. Lembro-me de sentir uma energia estranha que me trespassava o corpo. Uma emoção ao ver uma artista a dar tudo o que tinha e o que não tinha. E dei por mim a pensar na solidão dos artistas. Nas dificuldades. Nas angústias. Na incerteza do dia de amanhã. Nas noites em que estão em palco doentes. Nos momentos de luto que não tiveram tempo de viver porque "the show must go on". Na vulnerabilidade do Artista em palco. E foi essa vulnerabilidade comovente que vi no palco do Teatro Variedades no espectáculo "Rita".
Neste "Rita", espectáculo escrito por Sandra José e encenado por João Ascenso, Rita Ribeiro faz uma viagem comovente e emotiva pela sua vida. Nada soa a falso. Tudo vem das entranhas. Senti a mesma energia a passar-me pelo corpo no Teatro Variedades que senti há trinta e tal anos naquele sítio inóspito para se actuar. Digo energia porque a emoção é física e sente-se no corpo. Eu, pelo menos, sinto e não tenho melhor palavra para explicar essa "coisa" que vem dos pés à garganta provocando um nó que se desata rindo ou chorando. E "essa coisa é que é linda"!
Neste espectáculo, Rita Ribeiro passa pela sua vida, pelas personagens que representou, pelas mágoas, pelas alegrias, pelas tristezas, pelos sucessos e pelos fracassos, pelos amores e desamores.
Ser Artista (gosto desta palavra para definir estes seres especiais) é ESTAR e SER vulnerável. É sentimento. É emoção. É estar nu. É ser Verdade. Rita Ribeiro é Verdade!
Novembro 2024